quinta-feira, 17 de junho de 2010

Desejo e Amor

          O desejo é a vontade de consumir. Não precisa ser instigado por nada mais do que a presença da alteridade. É o ímpeto de vingar a afronta e evitar a humilhação.

          O desejo é contaminado desde o seu nascimento pela vontade de morrer. Se o desejo quer consumir, o amor quer possuir. A realização do desejo coincide com a aniquilação de seu objeto, o amor.
Amor e morte, cada um deles nasce, ou renasce, no próprio momento em que surge, sempre a partir do nada, da escuridão do não-ser sem passado nem futuro; começa sempre do começo, desnudando o caráter supérfluo das tramas passadas e a futilidade dos enredos futuros.

          Em todo amor há pelo menos dois seres, cada qual grande incógnita da equação do outro. É isso que faz o amor parecer um capricho do destino – aquele futuro estranho e misterioso, impossível de ser descrito antecipadamente, que deve ser realizado ou protelado, acelerado ou interrompido. Amar significa abrir-se ao destino, a mais sublime de todas as condições humanas, em que o medo se funde ao regozijo num amálgama irreversível.

          E assim é numa cultura consumista como a nossa, que favorece o produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, resulstados que não exigem esforços prolongados, receitas testadas, garantias de seguro total e devolução do dinheiro. A promessa de aprender a arte de amar é a oferta ( falsa, enganosa, mas que se deseja ardentemente que seja verdadeira) de construir a experiência amorosa à semelhança de outras mercadorias, que fascinam e seduzem exibindo todas essas características e prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultado sem esforço. *

*Retirado do livro Amor Líquido - Zygmunt Bauman.



"Fragilidade dos laços humanos.
Loucura aceita, disfarçada e dignificada".


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